quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ERA EU.......APENAS EU ...









Eu..... Era apenas Eu....

Interessante como a fotografia (quando no momento certo), pode mostrar quem realmente somos.... Desvendar nossa alma... Remover máscaras... Imortalizar um instante valiosíssimo, fazer-nos reflexionar...
Neste click “Eu” era apenas “Eu”....
Estranho afirmar isso para muitas pessoas...
Talvez....
Mas....
Para quem tem uma mente inquieta como cavalos selvagens, que geralmente não para nem um segundo do dia ou da noite, afirmar que “eu era apenas eu”... Isto significa muito.....
Sou inquieto, meu coração é inquieto.... Possuo uma inquietação que me acompanha desde que me entendo como gente. Será bom ou ruim? Não sei.... Depende...
Aliás, vamos ser lúcidos...
Sem interrogações neste instante, sem cobranças... Sem racionalismo.... Sem sentimentalismos.... Vamos nos despir de conceitos e preconceitos....
Vamos apenas viver este momento...
“Eu era apenas eu”....
Com a mente vazia, calma, equilibrada e feliz.... Eu era a união de todas os Josés e ao mesmo tempo nenhum deles.
Neste instante, neste breve e pequenino instante, (uma fracção de segundos talvez) minha ALMA foi fotografada.
Obrigada por este “click da alma” meu amigo, ele serviu para me mostrar que existe hora de acelerar e de reduzir a marcha e... Talvez... Esta foto me mostre que seja o exacto momento de reduzir o ritmo dos pensamentos... (pelo menos tentar, pois é muito difícil)
Deixar que a vida simplesmente aconteça, permitir que as águas fluam para o mar sem aprisionamentos, sem direcionamentos, sem cobranças, sem expectativas... sem atropelos...
Ser apenas “EU”....
Instante após instante.... até quando meus pensamentos inquietos permitirem.
Segundos? Minutos? Horas? Dias? Não importa....
Apenas viver.... Apenas sentir... Apenas ter PAZ..... Ser muitas faces e não ser nenhuma ao mesmo tempo....

domingo, 26 de setembro de 2010

VIAGEM DE VIDA



SOUZEL


Hoje, depois de tanto tempo,

me permiti visitar o passado.

E relendo as páginas anteriores,

fiz um balanço das coisas escritas

no livro de minha vida.

Somando tudo,

cheguei à conclusão de que houve

muito mais ganhos do que perdas.

Até mesmo nas lágrimas que chorei,

porque tornaram meu olhar mais brilhante;

até mesmo nas pedras onde tropecei,

pois me fizeram ficar mais atento ao caminho

por onde passava.

De cada desafio vencido

uma vitória;

de cada derrota

uma lição.

E a cada tombo

fui me fortalecendo mais.

Muitos passaram por minha vida:

alguns deixaram

seu perfume impregnado no ar;

outros deixaram

o gosto amargo de fel

e há os que passaram em branco,

deixando apenas

uma leve lembrança.

Amores eu tive poucos

mas de cada um retive

uma pétala de rosa

que guardo neste livro,

como lembrança.

Me fizeram sorrir...

chorar...sonhar...

Me mostraram a vida...

me fizeram desejar a morte...

Das dores ficaram

as marcas impressas

para que eu me lembrasse sempre

de agradecer a Deus

pelos momentos felizes,

mesmo que esses fossem fugazes,

porque da felicidade, em si,

não conheço muita coisa;

e acho mesmo,

que no fundo,

ninguém conhece.

sábado, 25 de setembro de 2010

SONHANDO FUTURO ........!!!



Luz acesa? Há tanto tempo que não passava por esta estrada. Será que está lá alguém? Desta vez vou entrar pela porta da frente e não pela janela... Tenho medo que sejam novos habitantes... E são, nós já depois de tanta coisa que por nós passou. Podiam ter sido anos, quase que pareceram. Depois de ter sido posto para fora, talvez me tenha enganado na pessoa , tive de ir arranjar mais dinheiro...

Já te disse eu como amo este espaço, que só existe comigo !!!

Agora sou eu que recordo esta casa... e estou encantado por reve-la... posso fazer tudo o que entender. Quero decora-la contigo, devolver-lhe vida, a alegria que uma casa de casal, , pode ter...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

MEMÓRIAS DE UM POVO


Estava só ... aquele dia iguais a tantos outros,sentado numa esplanada do café sobranceiro ao jardim municipal, bebia um café depois de almoço,fumei um cigarro à socapa, porque ainda não tinha fumado diante do meu pai..haveria pois quem me olhasse com sentido de reprovação.
Status ou irreverência.... !?
Vigiados quando estávamos em grupo porque poderíamos ter ideais progressistas ,já éramos jovens com alguns conhecimentos, será que era por falar-mos de Zeca não sei se o "informador saberia quem era " ou talvez pelos diálogos do dia que houve as eleições para a Assembleia Nacional , éramos menores ,mas já sabíamos quem ganharia ..pelo comentários dos mais velhos !
Mas nesse dia aproveitei para ouvir .... algumas passagens de 2ª Guerra Mundial e as repercussões em Sousel , extractos de memória desses comentários .
Alguém dizia - Nessa época ,com certos companheiros ,em cafés ou tabernas , passava-se os dias , lendo os jornais (quem sabia ler)que se devoravam de ponta a ponta sobre a guerra de Hitler_era um crime .era o fim de tudo isto , assim se julgava nesse tempo.
Grande parte do nosso Povo aglomerava-se em bichas, com cupões de cadernetas ,para angariar meio-quilo de pão e pequenas parcelas de arroz ,de açúcar ou de outras mercearias.
A guerra tocava-nos a todos que mais não fosse pelo dever moral de compaixão com milhares de pessoas que foram transportadas para campos de concentração e ali eram tratados sem o mínimo de dignidade,os jornais "Diário de Noticias" e "Século " assim informavam.
Lugares de gasolina fecharam.os transportes colectivos ,muitos deixaram de circular,e s camiões não eram todos os que circulavam , porque os seu proprietários não lhes podiam fazer ampliação para geradores a carvão .... gasolina e gasóleo desapareceram.
Estaríamos ameaçados pela guerra e por uma ameaça de crise económica a ponto de nos fazer sofrimento; mas longe dos horrores e das brutalidades que os jornais nos mostraram dessa pobre gente dominada pela força das armas e no fim condenada à pena ultima
O povo aglomerava-se em volta das telefonias e ouvia noticias da guerra, que locutores como Fernando Pessa transmitia .....
Foto: Sousel-MALUDA

terça-feira, 14 de setembro de 2010

OS MENINOS DE ABRIL !


Meu menino
Já ninguém estranhava. Desde que o filho morrera em Angola, na guerra, a Ti Custódia desatara a falar sozinha. A toda a hora: enquanto varria as folhas secas da figueira e das trepadeiras no quintal. Na estrada velha a caminho da mercearia do Jonico onde ia comprar pão. Na cerca onde plantava umas batatas e outros legumes para o gasto da casa. Por vezes eram conversas intermináveis, feitas de meias frases, de palavras sem nexo que ninguém entendia. As pessoas passavam e cumprimentavam-na: Como vai, Ti Custódia? Mas ela nem respondia. Absorta no falajar, nem dava pelo cumprimento.

Mas era no meio da Ria, na solidão de gaivotas e caranguejos, curvada sobre o viveiro de amêijoas que limpava, que Ti Custódia soltava, num desespero de gestos e palavras gritadas, a dor imensa que lhe cortava a alma: Volta filho, volta que a mãe morre de saudades de ti...
Cá de cima, encostado ao muro do velho Forte da vila, paredes meias com a igreja, debruçado sobre a Ria Formosa, o guarda-fiscal Matias olhava Ti Custódia e não conseguia deixar de suspirar. Ao contrário do que dizem as pessoas e os livros – pensava -, há coisas que o hábito e o tempo não desvanecem. Coisas boas e coisas más.

Para ele, Matias, era bom olhar a beleza azul-esverdeada da Ria Formosa, as águas mansas espraiadas na maré alta, apertadas na maré baixa, o veludo escuro do chão lodoso à vista.
Havia quase vinte anos que viera para aquele posto e todos os dias se encostava ao muro do Forte e olhava a Ria com os mesmos olhos extasiados da primeira vez: os barcos e bateiras a balouçar, os voos circulares ou picados das gaivotas, as marcas verticais dos viveiros, o labor humano dos homens e mulheres que cuidam da amêijoa em crescimento. Depois os olhos perdiam-se na ilha estreita e comprida, no areal fulvo, na linha densa das copas redondas dos arbustos baixos. E, logo a seguir, no mar. No azul do mar a prolongar-se, em dobra na linha do horizonte, no azul suave do céu. E sobre tudo, e sobre todos, a luz intensa e o quente sol de oiro do Algarve, em reverberações de cal branca e cores garridas.

Mas, para Ti Custódia, a beleza da Ria escoara-se no lodaçal no dia em que soube que o seu menino, a combater lá longe, em África, morrera. Para ela, o tempo não iria curar nunca a ferida e o vazio do filho que lhe fora arrancado. Meu menino! Meu menino...
Ainda por cima, o corpo do filho nunca lhe fora entregue, pensava o guarda-fiscal Matias, a fixar o vulto escuro de Ti Custódia, curvada no viveiro. Muitos voltavam em caixões de chumbo, e as famílias sempre podiam, ao menos, aliviar a mágoa com o funeral e o luto. Mas assim...
E agora, cinco anos depois do telegrama oficial com a trágica notícia da morte do filho, o outro filho da Ti Custódia, o mais novo, estava a um passo de ir para a tropa... e para a guerra no Ultramar, como o irmão.
Pobre Ti Custódia, pobres moços com a vida e a juventude truncadas, que raio de guerra esta!...

*

«Mãe, tenho uma coisa para lhe dizer. É uma coisa muito importante. Uma coisa que a mãe não pode nunca repetir. Nunca, a ninguém, nem à nossa Fatinha, pois a minha irmã ainda é muito nova e estouvada e pode descair-se com alguma palavra.»
Estavam as duas na cozinha, mãe e filha. Era de noite e estavam sozinhas, sentadas a costurar à luz mortiça de candeeiros de petróleo.
A mãe levantou os olhos enrugados para a filha: «Diz, Mariana.»
Mariana ajeitou no colo a peça de roupa que cosia, fixou o envelhecido rosto materno e respirou fundo: «Mãe, o nosso Zé António vai mesmo dar o salto.»
Ti Custódia estremeceu. Tremeu-lhe o corpo e fecharam-se-lhe os olhos. Mas perguntou ainda: «Quando?»
«Não sei, mãe, um mês, dois... Nem o meu irmão sabe a data concreta. Será avisado quase de véspera.»
Ti Custódia curvou-se toda na cadeira baixa, a olhar fixamente o chão, como se procurasse, no entrançado do capacho, alguma inspiração ou força obscura. E acrescentou, passado algum tempo: «É melhor assim. Assim não vai combater. Prefiro sabê-lo vivo, mesmo não o podendo ver nem com ele falar.»
O relógio de parede bateu horas, numa sucessão cadenciada de badaladas, e Mariana disse: «É melhor irmos deitar, que isto faz-se tarde e o petróleo do candeeiro está no fim.»
«Vai tu, filha, que a mim não me serve de nada ir para a cama que não durmo. Vai, Mariana.»
Ti Custódia ficou sozinha, na penumbra da cozinha, acabrunhada entre sombras e pensamentos. Via o filho mais velho. Era tão bonito o seu menino, com aqueles olhos pretos que riam com o brilho de pedras preciosas!... Meu menino, estás sempre vivo no meu coração... E agora o mais novo, com a tropa à espreita... Ah, Deus, que vida esta!... Que pouca sorte que lhe calhara como destino, a desta guerra em África!
Mas logo ouviu, clara e nítida dentro dos próprios pensamentos, a voz firme do filho mais novo: Mãe, não diga que a guerra é pouca sorte do destino, que é fatalidade ou vontade de Deus. A guerra é feita pelos homens. Pelos homens, mãe, e está nas mãos e querer dos homens acabar com a guerra.
Ah, onde teria este menino, vinte anos ainda por fazer, ido buscar estas ideias?... E agora ia fugir à tropa e dizer não à guerra, passar o Guadiana num sítio esconso, pela calada da noite, a esconder-se da GNR e da Guardia Civil espanhola, atravessar a Espanha e chegar a França. À liberdade.
França. Pelo menos tinha lá o cunhado, o marido de Mariana, lá emigrado a ver se ganhava alguma coisa para endireitar a vida. Mas esse fora com papeis legais. E naquela casa ficariam três mulheres e as crianças. Ela, viúva. A filha Mariana longe do marido emigrado há anos. A filha mais nova, a escrever cartas e aerogramas para um namorado que também estava na guerra de África. Que vida, que guerra, que destino...
E o eco das palavras do filho a ressoar-lhe de novo na cabeça, a pôr-lhe em dúvida as ideias: Mãe, a guerra é feita pelos homens. Está nas mãos dos homens acabar com a guerra. Assim como fazem a guerra podem fazer a paz e a concórdia.
*

«Ó mãe, já sabe o que sucedeu?»
«Eu não, filha, mas donde vens tu a sorrir dessa maneira tão alvoroçada?»
«Mãe, houve um golpe, uma Revolução, uma coisas dessas em Lisboa. Feita pelos militares. Foi esta madrugada, mas só à bocado é que me contaram. Olhe, tenho estado a ouvir na rádio e já deram na televisão. Lisboa está cheia de gente nas ruas. E de militares no meio das pessoas. Mas tudo pacífico. E o Marcelo Caetano e o Tomás acabaram de ser detidos e já não governam mais em Portugal. E estão a prender os Pides. Mãe, Portugal está a dar uma volta muito grande, isto está tudo a mudar. Venha comigo ali ao café do Largo ver na televisão. Têm estado a mostrar as pessoas na rua. Sabe o que elas gritam? Liberdade, liberdade! E gritam também: Fim da guerra colonial! Ah, minha mãe, já percebeu o que isso significa? Estou tão feliz, tão feliz!...»
*

De pé, no meio da Ria em baixa-mar, Ti Custódia deu por findo o trabalho desse dia no viveiro. Foi então que avistou o filho. Vinha a descer a falésia em direcção à Ria. Era tão parecido, este seu menino, com o irmão que morrera na guerra... Que lhe quereria ele? Não conseguiu deixar de se assustar. Será desta que sempre vai dar o salto? Será a despedida?
«O que tem, mãe, que está branca como a cal da parede?»
«Ai, filho, vens me dizer o tal adeus?»
«Ó mãe, que ideia... Eu já não preciso de fugir. Os tempos mudaram com a Revolução. A guerra de África vai acabar. Talvez eu já nem vá à tropa... Ó mãe, não vai haver mais fuga, nem salto, nem Ultramar. Sossegue o coração, mãe.»
Então Ti Custódia, com um suspiro fundo, ficou a olhar e a sentir a luz em jorros que enchia a manhã, a vida na Ria feita de murmúrios de moluscos e bivalves, correres apressados de caranguejos, voos e grasnidos de gaivotas, o baloiçar suave de barcos e botes, reflexos translúcidos nas águas calmas, a igreja e o Forte lá no alto, as piteiras e espinheiros na encosta, a ilha dourada pelo sol quente, o azul do céu e o azul do mar e o azul da Ria. E sorriu. Pela primeira vez em cinco anos. Era tão bela, de uma beleza transbordante e divina, a Ria Formosa!

A minha primeira pergunta em 1961 , porquê? que via ser de nós portugueses, na minha pacata vila alentejana acharia que não me tocava as tristezas de uma guerra, 14 anos depois voltaria a ansiedade e a mesma pegunta ... o tempo deu-me a resposta !
Um belo texto que recebi ... espero que o autor não se importe de eu o postar.. e que
para quem o ler são memória de um passado recente , Lembrar para não esquecer !

terça-feira, 7 de setembro de 2010

ÉS O SONHO POR SONHAR .....!



Na graciosidade de liras
sinto-te
- sem nunca me teres tocado!
Purifico meu corpo, mãos e lábios
e vejo-te sim
- aqui a meu lado
- sem nunca te ter tocado!
Não serei tudo
o que querias que fosse
apenas….
nos segredos que não partilhamos
ainda!
És meu sonho por sonhar
toque por tocar
beijo por beijar…

Serei
diáfana, inventada
no resto do teu mundo.
Guardo gestos matizados
promessas amordaçadas
gritos não escutados…
por acontecer
ainda!


Aos grandes amores sonhados... um , dois !??