domingo, 27 de novembro de 2011

LEMBRANÇAS ..... !!!


Ele lamentava-se da sua sorte. Lamentava que tinha nascido no país errado, que o destino o tinha marcado (não se sabendo como), que ninguém gostava dele, que o azar o perseguia, que amigos eram uma quimera, que o amor nunca lhe aconteceria, que a chuva nunca o deixaria, que a frustação sempre o acompanharia.
Quando verificou, que devido à sua maneira de estar na vida, estava sozinho descobriu que: o país não era assim tão mau, que o destino não marca ninguém, que ao longo da sua vida tinha encontrado pessoas que gostaram muito dele, que tinha tido amigos únicos, que o amor estava ali ao lado, que o sol brilhava ofuscando a chuva e que o optimismo é uma máxima a seguir (só se aceitando algumas esporádicas crises). Já era tarde para recuperar o que chegou a ter. Continuou a lamentar-se, mas agora culpando-se a si próprio.....ou talvez não !!!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

VENTO DA SERRA


...... com Manuel Poejo

Que ondas faz o vento pela seara de oiro....
Vai em remoinhos, corre à desfilada,
Como vê maduro todo o trigo loiro ,
Próxima colheita daquele tesouro,
Parece medi-lo só de uma braçada

Mas depois nas eiras, voltará o vento
Sacudindo as palhas ,a limpar o grão,
A bailar em roda de contentamento,
E a contar os bagos sem um desalento
Para saber ao certo quantos moios são.

Andará nas serras como um torvelinho ;
Subirá aos montes de maior altura ,
A soprar nas velas brancas , do moinho
Espreitando à porta , para contar baixinho
Quantos são os sacos de farinha pura

E andará gemendo por entre pinheiros ;
-Mal vento sabe que uma dor consome
É que o trigo , fica preso nos celeiros ;
E há tantos mendigos , velhos caminheiros
A dormir sem cama e a morrer à fome !!!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AMOR ,,,, OU QUIMERA !?


Se tu quiseres,posso guiar-te na vida
Descobrir caminhos, que eu não sei ...
Na estrada por mim desconhecida
Seguiremos juntos , amor, levar-te -ei

Posso levar-te aonde eu desconheço, posso levar-te
Por bem a sós, levado por minha mão..
Mostrar-te-ei sentimento a minha arte
Eu conheço amor,carinhos e gratidão.

Na escritura do destino,já assim ditou
Quem foi na mesma,na vida nos juntou ..
Feliz encontro , uma história desconhecida

Que o destino nunca te afaste de mim
Seguir-te na missão . dever até ao fim
Quem foi que ditou assim , a nossa vida .


Poema de 1/08/79
Por alguma razão o fiz e por outras o desfiz .............

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O MERCADO DE OUTROS TEMPOS .......... !


Meados do século passado, Sousel era a vila de maior expansão na cultura das Hortas.Os seus donos, levados pelo entusiasmo contrataram várias famílias da região de Castelo de Vide e de outros locais e aqui se fixaram e não mais a abandonaram.

Conhecedores a fundo desta cultura, aqui fizeram a sua vida, muitos anos. Assim foram estes o obreiros do que foi o Mercado de Sousel... que ficava instalado junto ao depósito da água e jardim .
Esta de grande abundância nem só pelo qualidade mas também pela quantidades que estes hortelãos produziam ....
Durante a noite de sábado e madrugada de domingo descarrego das hortaliças , frutas e tudo mais grande era a beleza de tal azafama ... nada mais que um acontecimento todos os domingos.
Assim é a riqueza desta terra pelo que me parece lá voltaremos se quisermos comer, mas que pelo menos em qualidade não falta ...
Esta terra onde as oliveiras brotam sem serem semeadas, esta terra que em anos de muita produção e safra de azeitona chega a durar quatro meses , era..... !!!
Nasceste longe do mar
Mas bem perto da oliveiras
Carregam aqui traineiras
Sem perigo de se afundar
Minha terra é este mar
tal riqueza nunca vi
Quem quer ganhar vem aqui
Lamberas-me a todo o momento
Quando estou longe de ti ..........

domingo, 20 de novembro de 2011

ESTRANHOS SÃO OS CAMINHOS DO SER ....


Só quando compreendeu que nada era é que pôde finalmente ser, o que o deixou feliz e cheio de si, tão cheio que só pensava em partilhar a sua descoberta com toda a gente, mas cedo percebeu que não só não conseguia explicar o que tinha alcançado, como não estava verdadeiramente interessado em fazê-lo. Estranhos são os caminhos do ser.

Quando descobriu que podia tudo imaginar, não só passado, mas também o presente e o futuro, desligou-se da realidade e mergulhou por inteiro na fantasia e no sonho. Foi mais ou menos por essa altura que deixou de ser visto e, meses depois, foi dado como desaparecido. Agora estará morto...?

Dedicou toda a sua vida a uma questão que considerava a mais importante de todas, não só pelo seu valor intrínseco mas também pela sua importância no dia-a-dia de cada um. No entanto, a verdade é que a sua obra passou quase despercebida, e até mesmo o seu "livro" mais importante, “Estará o copo meio cheio ou meio vazio?”, verdadeira súmula de todo o seu pensamento, quase não foi lido.

sábado, 19 de novembro de 2011

PELA PRIMEIRA VEZ.....


...... comigo !!!

Não sei o que dizem as palavras que escrevo, mas sei que elas sempre falam de mim. Não espero muito das palavras, pouco mais do que um testemunho do que sou, mas isso para mim é importante. Possa você rever-se nelas, e cumpriram sem dúvida a sua missão: revelar nossa humanidade. Desculpe-me ainda o modo como o afirmo, assim, sem mais nem menos, como fosse algo demasiado importante para ser dito. Acredite que escrevo sempre com um sorriso. Escrever liberta-me , sobretudo quando falo de coisas sérias........

Visitava-o todos os dias, nos seus sonhos, e fazia-o muito feliz, tão feliz como nunca alguma vez ele fora. Chegava num passo tão ligeiro que os pés nem pareciam tocar o chão, e logo o abraçava com intensa ternura, sussurrando-lhe ao ouvido que o amava muito. Cheirava a fruta madura e deixava-o louco de desejo... tão louco que ele a procurou por toda a parte e, verdade seja dita, acabou por a encontrar, o que nem mesmo ele acreditara verdadeiramente......

Tinha alcançado uma perfeita consciência de si mesmo, e esse sentimento intenso e persistente era-lhe agradável, mas, ao mesmo tempo, incomodava-o, como se trouxesse vestida uma camisola de um tamanho inferior ao seu. Um dia apaixonou-se e experimentou de súbito o milagre da unidade: perdeu então a consciência de si mesmo e sentiu-se finalmente um só. Estranho caminho é este que nos leva de nós aos outros e dos outros a nós mesmos, pensou , e foi nesse preciso momento que se sentiu completamente feliz * pela primeira vez.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ANSIEDADES ....


Ansiedade
Não sei se esse é o nome correto para esse mal, mas parece ser o mais adequado.
O motivo, geralmente, é nenhum ou nenhum em especial ou algum enraizado e muito mal resolvido ou o somatório de muitos escondidos sob o tapete.
Quando tudo parece caminhar normalmente, um incômodo profundo e inexplicado se apodera do "doente" e ele não consegue verbalizar, não consegue exprimir , não consegue domar essa angústia. Aquele que precisa ter nas mãos o domínio absoluto da sua vida e dos seus sentimentos, tudo fica sem sentido, o chão parece desaparecer, o ar não é suficiente, e ele sucumbe ao transtorno, ao desnorteamento, ao pavor inventado.
Sua mente fértil é capaz de criar as situações mais incabíveis e nelas acreditar, e por elas sofrer. As consequências podem ser desastrosas: auto sofrimento, isolamento à procura de uma resposta ou alívio dos sintomas.
Ele quer acreditar, ou até acredita, que apenas esse isolamento pode lhe ajudar nesse momento, mas no fundo sabe que precisa de ajuda exterior, ou tão somente uma conversa, um gesto, um olhar afável, um abraço de alguém especial...
Talvez uma boa noite de sono apazigúe sua alma (desnecessariamente) aflita..

domingo, 13 de novembro de 2011

INSTANTES .........




.... com Manuel Poejo

Mais um jantar ....

Olhos de vácuo
Engolem a vontade
Profundos vazios
Como o medo
O receio em se fechar
E o escuro tomar a sua visão
Junto ao sorriso meio desolado
Espera o segundo
O segundo que não quer passar
E a mesa em frente
E ele passa os malditos momentos
Em um coma sem fim ele apenas sorri
Pra nada em especial........

É só um jantar .....

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

MOMENTOS ......

.







..... com Flávio Piteira

Em Véspera de ir a Milão em 2010, para o centenário foi assim: O despertador tocou, eram 5h00m em ponto do dia 25 de Junho de 2010, não havia sono que que conseguisse deixar-me mais um minuto sequer na cama, a velocidade com que me aprontei só poderia ser vencida pelo acelerar de um Alfa numa corrida contra o cronometro, a mala feita na véspera para não me atrasar nem mais um segundo que fosse representava uma grande mas saborosa ansiedade. - Rápido tenho de estar no aeroporto da Portela pelas 6h30 quero um lugar o mais à frente possível, quero ser dos primeiros a chegar a Milão =)), ai queres ? devem ter perguntado os deuses automobilísticos, então para não teres pressas vamos cancelar o voo e só conseguirás descolar para Milão lá para a tarde e mesmo assim sem certeza de haver voo. A Culpa era dos Franceses, fiquei eu a saber, só pode ser sabotagem das marcas francesas que pagaram muito bem para nesse fim de semana, o fim de semana do centenário da Alfa Romeo, fazerem greve e fecharem o espaço aéreo Francês, ou então não queriam que o seleccionador francês regressasse a casa depois de tão triste participação no campeonato do mundo, podia ter acontecido o mesmo ao nosso, bem mas isso são outras contas. Depois de quase um dia no aeroporto sem ter a certeza de quase nada, apenas sabia que tinha de ir a Milão nem que fosse de VW, encontro-me por fim na sala de embarque, o deuses dos automóveis começam por fim a colaborar comigo. Chego a Milão já tarde, tarde de mais para aproveitar o dia, para ver e assistir às primeiras actividades Alfistas, mas estava em Itália, estava em Milão, começo por fim a respirar as origens da Alfa Romeo, começo por fim a perceber os motivos, as razões, as emoções de ser Alfista, o ambiente, a língua, os cheiros, as visões de estilo, tudo influência a razão do coração, a razão de se ter Cuore Sportivo. Acordei dia 26 Junho, depois de uma noite bem aproveitada, curta mas bem dormida, vou para a Rua, estava no meu Mundo, no meu habitat, respirava-se Alfa Romeo, eram Alfas e mais Alfas, eram 8Cs, eram 75s, eram Junior Zagatos, eram SZs e RZs, eram clubes de toda a parte do mundo, Grécia, Brasil, Portugal, França, Itália, Inglaterra, Japão, Holanda, Suiça, e mais muito mais, a nata da Alfa Romeo estava ali, eu estava ali, mas ainda hoje me parece um sonho É um prazer partilhar esta minha experiência com todos os membros do Alfa Romeo Team, tentei escrever de uma forma resumida as vivências e emoções, o resto é com as Imagens e vídeos. Um grande Abraço a todos do enviado especial, especial não, apenas Alfista como todos "vós."

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

MOMENTOS ......


..... com António Aleixo
Quadras ...

A vida é uma ribeira;
Caí nela, infelizmente…
Hoje vou, queira ou não queira,
Aos trambolhões na corrente.

Crês que ser pobre é não ter
Pão alvo ou carne na mesa?
Mas é pior não saber
Suportar essa pobreza!

O luxo valor não tem
Nos que nascem p’ra pequenos:
Os pobres sentem-se bem
Com mais pão luxo a menos!

A esmola não cura a chaga;
Mas quem a dá não percebe
Ou ela avilta, que ela esmaga
O infeliz que a recebe.

A ninguém faltava o pão,
Se este dever se cumprisse:
- Ganharmos em relação
Com o que se produzisse.

O homem sonha acordado;
Sonhando a vida percorre…
E desse sonho dourado
Só acorda, quando morre!

Quantas, quantas infelizes
Deixam de ser virtuosas…
E depois são seus juízes
Os que as fazem criminosas!...

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias…

Chegasses onde pudesses;
Mas nunca devias rir
Nem fingir que não conheces
Quem te ajudou a subir!

Os que bons conselhos dão
Às vezes fazem-me rir,
- Por ver que eles próprios são
Incapazes de os seguir.

Mesmo que te julguem mouco
Esses que são teus iguais,
Ouve muito e fala pouco:
Nunca darás troco a mais!

Entra sempre com doçura
A mentira, pr’a agradar;
A verdade entra mais dura,
Porque não quer enganar.

Se te censuram, estás bem,
P’ra que a sorte te perdure;
Mal de ti quando ninguém
Te inveje nem te censure

terça-feira, 8 de novembro de 2011

MOMENTOS ....


...... com Florbela Espanca

Versos


Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.

Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

MOMENTOS ......


....com Manuel Poejo

SERRA .... Alma

Onde eu tanto te mirei
Tinha para te dar um recado
Já por mim abandonado
Já não me lembro, já não sei .

Um olhar de pouca distância
A vontade e não corria
Tu sem olhares a luz do dia
Reparavas em mim qual ânsia

Seria esta a oliveira
para ti sempre o mesmo olhar,
Mais um ano para recordar
Foi sempre a mesma cegueira.

Não cansa aquela ladeira
Muito gosto de lá ir
Já não tenho para quem sorrir
E olhar daquela maneira .

Vejo ali a procissão
Onde sempre acompanhava:
O meu olhar não tirava
Do sonho perdido, foi então .

De tanta paixão recordar
Foi ali que te conheci,
Amei-te e fiquei sem ti
Fiquei e não sobe lutar ....

domingo, 6 de novembro de 2011

MOMENTOS ......


......com José Régio


Toada de Portalegre

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Morei numa casa velha,
À qual quis como se fora
Feita para eu Morar nela...

Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- Quis-lhe bem como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego.

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De montes e de oliveiras
Ao vento suão queimada
( Lá vem o vento suão!,
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão...)
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem fôr,
Na tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela,
Tinha, então,
Por única diversão,
Uma pequena varanda
Diante de uma janela

Toda aberta ao sol que abrasa,
Ao frio que tosse e gela
E ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda
Derredor da minha casa,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos e sobreiros
Era uma bela varanda,
Naquela bela janela!

Serras deitadas nas nuvens,
Vagas e azuis da distância,
Azuis, cinzentas, lilases,
Já roxas quando mais perto,
Campos verdes e Amarelos,
Salpicados de Oliveiras,
E que o frio, ao vir, despia,
Rasava, unia
Num mesmo ar de deserto
Ou de longínquas geleiras,
Céus que lá em cima, estrelados,
Boiando em lua, ou fechados
Nos seus turbilhões de trevas,
Pareciam engolir-me
Quando, fitando-os suspenso
Daquele silêncio imenso,
Sentia o chão a fugir-me,
- Se abriam diante dela
Daquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Na casa em que morei, velha,
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
À qual quis como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego...

Ora agora,
?Que havia o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Que havia o vento suão
De se lembrar de fazer?

Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
?Que havia o vento suão
De fazer,
Senão trazer
Àquela
Minha
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
O documento maior
De que Deus
É protector
Dos seus
Que mais faz sofrer?

Lá num craveiro, que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!,
Eis que uma folha miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
Á qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...

?Como é que o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola,
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere ... e consola
Com o próprio mal que faz?

Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for
Me davam então tal vida
Em Portalegre; cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Me davam então tal vida
- Não vivida!, sim morrida
No tédio e no desespero,
No espanto e na solidão,
Que a corda dos derradeiros
Desejos dos desgraçados
Por noites do tal suão
Já varias vezes tentara
Meus dedos verdes suados...

Senão quando o amor de Deus
Ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Confia uma sementinha
Perdida entre terra e céus,
E o vento a trás à varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tôsca e bela
À qual quis como se fôra
Feita para eu morar nela!

Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acàciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu; dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério,
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus,
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...
Quem desespera dos homens,
Se a alma lhe não secou,
A tudo transfere a esperança
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar nos animais,
De humanizar coisas brutas,
E ter criancices tais,
Tais e tantas!,
Que será bom ter pudor
De as contar seja a quem for!

O amor, a amizade, e quantos
Mais sonhos de oiro eu sonhara,
Bens deste mundo!, que o mundo
Me levara,
De tal maneira me tinham,
Ao fugir-me,
Deixando só, nulo, vácuos,
A mim que tanto esperava
Ser fiel,
E forte,
E firme,
Que não era mais que morte
A vida que então vivia,
Auto-cadáver...

E era então que sucedia
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Aos pés lá da casa velha
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casa que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.

Vento suão!, obrigado...
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado
Sem eu sonhar, me chegara!

E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera.

sábado, 5 de novembro de 2011

UM BRINDE.......


Um brinde...
"Por mais raro que seja, ou mais antigo
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo"

Mário Quintana

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MOMENTOS .......



...com António Gedeão

POEMA DO FUTURO

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslisam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.

Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.