domingo, 25 de março de 2012

GUERRA E PAZ



"Quero descobrir. Tudo. Quero descobrir por que sei o que está certo e faço o errado. Quero descobrir o que é a felicidade e qual é o valor do sofrimento. Quero descobrir por que razão os homens vão para a guerra e o que têm no seu interior quando rezam a Deus. Quero descobrir o que as pessoas sentem quando dizem que amam (...) Acho que deve ser difícil para ti perceberes uma pessoa como eu. Tu sabes exactamente o que deves fazer e fazes isso mesmo. Tu estudas e ficas esclarecido. Eu estudo e fico confuso."



(Tolstoi, "Guerra e Paz")

sexta-feira, 23 de março de 2012

E FUJO DE QUÊ !?


Há qualquer coisa de instintivo, de não dito, algo não racional nem razoável que faz com que no nosso interior um alarme de perigo se acenda.
Porém, o problema consiste em que é uma sensação difícil de racionalizar e de situar.
É como uma adivinhação, como um pressentimento de dores futuras. Eu sei, ou pelo menos acredito, que as intuições e os pressentimentos realmente existam e que, se não sempre, pelo menos frequentemente, remetam para qualquer coisa de real.
A minha própria razão diz-me que tenho de dar atenção a esses pressentimentos, que não devo desprezar as minhas intuições e sensações, mesmo que essas sejam de todo malucas, mesmo que estejam tecidas por um fio invisível que oculta a trama, as causas, os efeitos, mas que enviem para o corpo e o cérebro uma mensagem clara: Alerta! Alerta! Tem cuidado!
Quem é que ensina ao coelho a desconfiar da serpente? Quem é que disse à gazela que tinha que correr ao perceber um certo cheiro?
Há mensagens cifradas da realidade que não são decifradas pela parte racional do nosso corpo, mas por um receptor qualquer que temos dentro de nós e que é, ao mesmo tempo, muito menos cego do que os olhos, muito menos burro do que a razão e muito mais obscuro e difícil de definir do que eles.

segunda-feira, 19 de março de 2012

A MEU PAI !


Hoje senti saudades de ti ... pai ...
saudades de te ter , de te abraçar,
hoje senti saudades de ti ...
saudades de te ver sorrir ...
saudades da tua face e teus olhos...
hoje senti saudade de te olhar...
saudades da tua voz...
mas senti saudades de te ouvir falar,
hoje senti saudades de ti ...
de te ver a trabalhar,
de te ouvir rir, pena não te ver envelhecer ...
ver-te chegar a casa, era uma casa cheia...
hoje olhei-me ao espelho, pensei em ti...
no verde de meus olhos vi saudade,
vi-te dentro do meu olhar, fiquei ali...
e fiquei nos meus olhos à vontade ...
pedi então a Deus p'ra adormecer
que pudesse ver-te, ainda que a sonhar
não pude dormir, pai ,
não pude... que a saudade
foi mais forte do que eu, pôs-me chorar...
(TB)

domingo, 18 de março de 2012

A NOSSA ESCOLA, NO PRIMEIRO DIA........


No meu primeiro dia de escola tinha vestido uma bata azul com quadrados brancos ou branca com quadrados azuis e transportava,, uma mala de cartão. Nessa mala tinha três cadernos um de linhas, outro de contas e uma ardósia , um estojo com uma lapiseira , um lápis e uma borracha e meia -dúzia lápis de cor para desenho .

Nesse dia a minha mãe acompanhou-me à escola e, porque tivemos de aguardar a chegada do“Senhor Professor”, conversou com as mães dos outros meninos. Nós, nós olhávamo-nos como desconhecidos.que éramos,porque praticamente ainda não tínhamos saído de um raio de 500 metros da nossa casa até a essa altura . Quando o “Senhor Professor” abriu a porta a minha mãe lançou-me um desafio. Uma frase que demorei alguns anos a compreender. No principio deste Mês senti, mais uma vez, o significado desse repto, que a minha mãe me lançou há exactamente 51 anos.

Naquela altura as aulas começavam em Outubro e os meninos foram pela primeira vez à escola. A minha mala era castanha e muita coisa mudou: sei ler, sei a tabuada e sei fazer contas e até ver as horas, e as letras já deram os primeiros passos. Tanta coisa mudou! Tanta coisa! Mas tenho uma questão: o que será que as mães do século XXI dizem aos filhos quando os deixam pela primeira vez na escola?
(foto JRSIMAS )

sábado, 17 de março de 2012

E SE EU TIVESSE SEGUIDO O CONSELHO .......



De malas aviadas.... éramos chegados ao aeroporto de Luanda , para tomar-mos o avião do TAM para Lisboa , missão cumprida e para trás ficaria a bela e quase Ex.colónia Portuguesa , ANGOLA , estávamos em 31 de Outubro de 1975.
Quando olhei o avião, ri de alegria e ainda ri mais quando subo a escadas a detecto uma cara conhecida, era um amigo da marinha e de Sousel , Carlos Dimas feliz encontro, tive logo a sensação que não seria uma viagem aborrecida e não foi ....
Não eram hospedeiras, mas em comparação a uma viagem que fiz em 2010 na TAP o serviço de de Catering foi bastante superior , desde aperitivos ao próprio jantar...talvez estivessem a honrar os seus heróis ou então porque eu viajava a lado de um oficial superior , que me faria sentir um bocado constrangido , a coisa teria sido mais fácil se viéssemos à civil , em cima dos ombros do homem estavam três galões , dois estreitos e um largo, olha com o que tive de lidar durante as aproximadamente oito horas de viagem.
Palavras dele - o que vai fazer quando chegar ? Meu tenente - coronel , não sei , logo se verá , logo ele entendeu que eu estava sem projectos futuros . Por fim deixou-me uma sugestão , que foi, porque não continua no exercito ? Deixou-me a pensar mas a vontade de chegar à minha terra era mais forte e respondi-lhe não quero .
Que teria visto ele na minha cara , perfil para militar ou simplesmente perseverança de Alentejano para missões a cumprir ou a lealdade comparável aos que também Alentejanos estiveram ao lado do Condestável , e tivesse seguido o conselho ......
Mas lá atrás estava o Carlos Dimas que me chamou para me oferecer uma boa ceia , vinha fornecido de marisco e cerveja e assim deixei o meu companheiro de viagem a meditar e fui para a festa ! Pois não preciso de dizer mais nada.....
Apertem os cintos , estamos a chegar era a voz do comandante da nave . mais eu vibrava de alegria com a alegria das cervejolas !!!
Já em solo Pátrio e a descer as escadas do avião , esperava-nos as famílias dos militares , eu senti-me nesse momento tremendamente só, ninguém estava à minha espera, mas afinal ela era tão linda como na foto a mana de um soldado dado meu pelotão ....
E agora como vou para Sousel !!!??
O Carlos Dimas era de Sousel e o Santiago se a memória não me falha , de Évora , fizemos uma " perninha " num táxi . quanto custou !? e isso que interessava ....
O abraço do Pai que não me esperava a falta da "chama" da casa falecida uns tempos antes de embarcar para Angola , foi um regresso de felicidade comedida .
Projectei um hiato de uns meses para adaptação aos novos desafios que esperava irem surgindo ........ e foram .

quinta-feira, 15 de março de 2012

NÂO SEI QUE ACONTECEU EM N`DALATANDO .............


Sei, mas não tinha era a consciência do que poderia ter acontecido. quando a coluna militar parou pela manhã em SALAZAR, assim se chamava até 1975, em que a 3ª companhia do BAT CAV 8322/74 , se deslocava para uma nova ZA ( Zona de acção). Nosso destino Catete pela importância histórica , foi lá que nasceu o líder do MPLA AGOSTINHO NETO .
Foi uma viagem de regresso , vínhamos aproximando de Luanda , deixamos para trás Saurimo , mais propriamente o AB4 onde estivemos aquartelados durante uns meses interagindo com a cidade lá em baixo a 2 ou 3 kms.
A coluna militar partiu e eu uns quilómetros passados é que me apercebi da extensão da mesma , no momento já era uma coluna mista acompanhava-nos mais de 70 carros civis, sentir-se iam mais seguros viajar com a tropa portuguesa a finalidade deles era chegar a Luanda para vir para Portugal. Os chamados Retornados !
Todo o Norte de Angola já estava no domínio do MPLA já não havia conflitos portanto até N`dalatando foi uma viagem de turismo apreciando a vistas a divertindo.nos com as peripécias que aconteciam ás viaturas já velhas a gastas, eram " abatidas " ali mesmo montanha abaixo .
Desta vez tive o privilégio de viajar instalado dentro da cabina de uma Berliet , sem ar condicionado com quilos de pó no camuflado.
Como a coluna em andamento de estendia por vários quilómetros era difícil passar mensagem todo com aquele roncar dos motores se a primeira viatura parasse só meia hora depois pararia a ultima assim lá íamos todos contendes da vida , ficaríamos uns metros mais perto de casa , por ironia assim que cheguei e para animar estava um cartaz de boa vindas e irónico - Maçarico está a 10.000 Kms do PUTO (Portugal).
Que linda que estava MALANGE à vinda, destroçada que estava à ida , porém já não estaria o Dono do restaurante onde não pagamos o jantar uns meses antes ...... para lhe liquidar a dívida .
Serpenteando pela estrada daqueles montes e vales e já perto de N`Dalatando aproximava-se sarilhos , já anoitecia a coluna parou na cidade pesava eu que era para passarmos a noite . mas não , uma barreira do MPLA que não queriam deixar.nos passar .....
Só passariam os militares os civis não , que grande embrulhada , não deixaríamos nas mão dos guerrilheiros os civis , que poderia acontecer eu não sei mas deduzo ...
Altas patentes reunidas em conversações que duraram quase toda a noite , fomos avisados que poderia dar para o "torto" para estarmos preparados .....
No meu caso preparei me mas foi para comer um arroz quente com mandioca duma amável e linda mestiça que foi com a minha cara , que já estava farto da ração de combate, chocolate com leite e conservas aquecidas na pólvora das balas ...
Por fim lá foi desbloqueada a situação e tudo seguiu conforme, partimos cedo a ainda parámos em Cambambe onde estava instalada uma companhia do nosso Batalhão , para montar segurança a barragem.
E assim chegamos a CATETE e os civis seguiram para Luanda .



Fonte : Wikipédia
N'dalatando

Ndalatando é uma cidade angolana, sede do município de Cazengo e capital da província de Kwanza-Norte.
Até 1975 teve a designação de Vila Salazar, em homenagem ao então presidente do Conselho de Ministros português, António de Oliveira Salazar.
A cidade é sede da diocese de Ndalatando, criada pelo papa João Paulo II, em 1990, pelo desmembramento da arquidiocese de Luanda. Abrange todo o território da província do Kwanza-Norte. O seu primeiro bispo é Dom Pedro Luís Scarpa. Em 2005, o papa Bento XVI nomeou o actual bispo, Dom Almeida Kanda .

quarta-feira, 7 de março de 2012

MEMÓRIAS .... !!!



Após ter-me despedido dos meus pais, entrei no quartel, o que fazia pela primeira vez na minha vida, e logo verifiquei que o exército faz de conta tinha sido substituído por um exército com um espírito novo, consentâneo com as circunstâncias da altura: estado de guerra e com o lema, aprender a matar e não se deixar matar porque cada soldado ficava caro ao Governo.
Depois da praxe militar da apresentação ao oficial de dia, ao sargento de dia, ao cabo de dia chegou a vez do amanuense de dia que nos distribuiu todo o enxoval necessário para a nossa estadia, desde as cuecas à respectiva arma.
Em seguida, precedidos por um sargento com voz autoritária, o contrário não ficaria bem, fomos instalados, cerca de cem homens num "armazém" não havia mais casernas disponíveis para alojamento, tal era o tamanho da incorporação. O que vale é o sentido prático do desenrasca no exército.
A caserna era uma espécie de corredor muito comprido em forma de túnel, com beliches duplos, um por cima outro por baixo, colocados ao longo dele formando um apertado corredor central, que viria a tornar-se no futuro, na via mais engarrafada do quartel o que não é difícil de imaginar.
Um único balneária com dez lavatórios e dez duches para cem homens, que tinham cerca de meia hora entre o toque da alvorada e a apresentação na parada, para fazerem a sua higiene matinal, era a maior confusão que se possa imaginar, dando por vezes origem a conflitos, pois levantar aquela hora da manhã até punha um santo mal disposto. Felizmente, sempre fui um galo da manhã ou antes pensava sempre na minha comodidade nem que tivesse que levantar-me uma hora antes do toque da alvorada para tranquilamente ir para o balneário.
Ao princípio era um dos primeiros a apresentar na parada, mas depois passei a ser dos últimos, ainda que o primeiro na higiene matinal. Abrigava-me nos degraus do edifício aguardando a chegada de todos, então ingressava na formatura. Àquela hora da manhã, ainda noite cerrada, o frio era tanto tanto que ficávamos completamente enregelados para o dia todo. Os gajos tinham a lata de nos obrigar a vestir o fato de instrução, em cima do pelo sem qualquer outro agasalho por baixo dele. Por falta de verba militar ou mau gosto do estilista, num cheguei a saber, o dito fato de instrução não passava de um horroroso fato macaco que nos dava mais um ar de aprendizes de mecânico do que propriamente um aspirante a "pronto".
O rancho, não tivesse eu boa boca e muita fome, estava feito, mas felizmente se alguma coisa me deixou boa recordação desta estadia, foi o casqueiro, especialmente de manhã bem besuntado com margarina acompanhado com café quente. Comigo o despenseiro nunca se safou, tomava dois pequenos almoços todos os dias, havia sempre uns bem aventurados esquisitos que preferiam comer umas bolachas que traziam de casa.
Depois do pequeno almoço, seguia-se a instrução militar, que era ministrada por um aspirante miliciano desejoso de demonstrar as suas habilidades e saberes militares. Rapaz da nossa idade, sem qualquer experiência de comando, quanto mais de guerra, procurava superar a dificuldade em se impor ao pelotão, com uma gritaria quase patética, o que aliás é apanágio dos exércitos. A surdez deve ser um sindroma de todos os recrutas em todos os exércitos, pois não há outra explicação para os instrutores não saberem dar ordens ou explicar o que quer que fosse sem ser a gritar.
Depois do rancho do almoço, a instrução lá continuava pelas matas , entre correrias, rastejadelas, passagens a vau e algumas sessões de tiro para afinar a apontaria. O treino terminava por volta das cinco da tarde, ficando o resto do tempo por nossa conta...ansiosamente esperando o fim de semana !