segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

POUCO OU NADA A ACRESCENTAR......


Peço desculpa aos que ainda cá vêm de vez quando em busca de algum sinal de vida mas isto vai andar um bocado parado nos próximos tempos,os momentos que correm não me inspiram, já devo ter pouco ou nada a acrescentar!
No entanto, não posso dizer que tenha vontade de acabar com aquilo que tantas vezes durante os últimos três anos foi a única coisa que esteve entre mim e a perda definitiva da pouca sanidade mental que ainda me vai restando.
Portanto, isto é um até qualquer dia.Sejam felizes que eu ando a tentar ......

sábado, 25 de fevereiro de 2012

NÃO ME VENDO.......



(momentos com .... EU )

Mal...bem,
Errado...certo.
Não me comparem a ninguém,
Queiram apenas ter-me perto.

Fraco...forte,
Derrotado...vencedor.
Não falem da minha sorte,
Falem antes de minha dor.

Entrada...saída,
Aqui...além.
Eu gosto da minha vida,
Uma vida dura para quem a tem.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

MOMENTOS ......




..... com Vinicius de Moraes



SONETO DO AMIGO

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

POR ESTA ESTRADA AMIGO VEM...........



Traz Outro Amigo Também
Zeca Afonso

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja bem vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

MOMENTOS ...... !!


..... com Betolt Brecht

Aos que virão depois de nós

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

EU SEI QUE ME PODERIA ACONTECER .....




A sala é branca: quatro paredes, tecto, chão, nenhuma janela. A meio, uma mesa de metal brilhante, duas cadeiras. Tudo branco (um branco puríssimo, angélico). Mesmo as minhas roupas são brancas. Mesmo as roupas dela são brancas. Não sei o que faço aqui. Não sei quem é a pessoa do outro lado da mesa. Ambos procuramos, ao mesmo tempo, a primeira palavra. Estaremos mortos? Será isto a antecâmara do inferno? Será isto a antecâmara do paraíso? Ambos procuramos, ao mesmo tempo, a primeira palavra. O tempo passa. Bocas fechadas. Olhos nos olhos. Sabemos agora que nenhum de nós vai falar. Ignoramos ainda se isto é uma bênção ou o último dos castigos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

PELAS "SEARAS" DA VIDA .........


Tens a fotografia em tuas mãos. A velha fotografia. À esquerda, o brilho fosco da cal da casa da sua natalidade, pássaros de asas abertas, sol imenso a encher o céu. Ao centro, numa espécie de procissão , as árvores , alvenaria batida pelos ventos, vigas de madeira carcomidas pela humidade, janela rasgada diante do furor do tempo , restos de cal e de um esplendor antigo. À direita, a imensa sombra do sonho , estendendo-se terra adentro — voraz — e com ele o princípio da estrada de todos os regressos, de todas as despedidas.
Olha para o pequeno rectângulo de papel rugoso, agora cheio de riscos, amarelado nas pontas. Quem captou aquela imagem já morreu há muitos anos. A casa ainda existe; é só lembranças corroídas e aruínadas. E aquele que tu foste, dentro da casa, também desaparece aos poucos, devorado pela máquina ferrugenta da memória, perdido nesse passado que se vai tornando difuso, frágil e inútil — como uma teia de aranha.
Sabes muito bem o que o tempo, esse assassino discreto, faz às coisas. Monta o cerco. Expande o deserto. Seca por fora e por dentro. Transforma tudo em pó. Nada lhe resiste. Nada. Nem sequer a imagem de uma casa, que alguém, um dia, com paciência e barro , fixou. Nem sequer esta velha fotografia que se desfaz, aos poucos, nas tuas mãos demasiado gastas.
Segues agora, com o olhar, cada uma das linhas da imagem que se desvanece, os gradientes de um preto e branco cada vez mais submerso na irrealidade das coisas extintas. Percorres, às cegas, as fronteiras de um mapa imaginário: o ar escondido, as paredes onde a cal nunca se demorava, o crepúsculo violento atravessando as salas, as tábuas de madeira que rangiam nas noites de ventania, uma voz saindo da escuridão com a forma do teu nome.
Acendes, uma última vez, a memória. Ficas à espera. Mas a memória calou-se. As vozes não regressam, não há ninguém que te chame neste agora que veio depois de tudo o que se apagou, não há variações dentro da brancura espessa do esquecimento. A névoa engoliu tudo. Já não há azul, já não há verde, já não há oiro, já não há prata.
Ainda assim, a fotografia continua entre os teus dedos. Intacta. Mas olhar para ela tornou-se uma violência. O que foi belo, magoa. O silêncio devora-te. O vazio é uma faca apontada ao coração. Sabes que nunca ninguém virá, nunca mais. Por isso aproximas do lume o rectângulo de papel rugoso. E vês arder tudo aquilo: a casa,o sonho as tuas pegadas a tua infância a tua adolescência e a tua realização pessoal ..... ficam as cinzas no borbulhar das chamas........
(foto Constantina Santos)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

DEIXA O TEMPO FAZER O RESTO .....


Deixa o tempo fazer o resto
fechar janelas
aplacar os barcos
recolher os víveres
semear a sorte
acender o fogo
esperar a ceia

abre as portas: lê a luz
a sombra, a arte do passarinheiro

com três paus
fazes uma canoa
com quatro tens um verso,
deixa o tempo fazer o resto.

(Ana Paula Inácio)


DO QUE ME LEMBRO


Lembro-me da música dos lugares a oeste
dos planos para esse reino amado
que pretendemos tanto tomar de assalto
antes dos brados do fogo

Mas as minhas mãos traziam já
uma sina mais escura, nem a noite

Qualquer penumbra serviu
ao meu coração oculto
a miséria do Inverno
o treino dos falcões nas escarpas
a glória iludida
em que se consumiu o tempo

José Tolentino Mendonça (in «Longe não sabia», Presença)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

MOMENTOS ...... !!


......com Manuel Alegre



Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

MOMENTOS ......



... com Oswaldo Montenegro

Lista
Faça uma lista de grandes amigos,
quem você mais via há dez anos atrás...
Quantos você ainda vê todo dia ?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
era o melhor que havia em você?
Quantas mentiras você condenava,
quantas você teve que cometer ?
Quantas canções que você não cantava,
hoje assobia pra sobreviver ...
Quantos segredos que você guardava,
hoje são bobos ninguém quer saber ...
Quantas pessoas que você amava,
hoje acredita que amam você?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A VIDA MOLDA-NOS



Há alturas em que temos de esquecer aquilo que somos e aquilo em que acreditamos.
Porque nem sempre estamos certo, porque o erro está na nossa natureza.
Por vezes é bom sabermos que erramos, sentirmos-nos frágeis, descobrir que somos de carne e osso.
Embora às vezes me pergunte se o erro está na minha natureza, ou se é a minha natureza.
De qualquer forma tenho a certeza de não errar ao dizer "Não há professores melhores que os nossos próprios erros.... A VIDA MOLDA-NOS."
Somos estranhos nesta existência. Nunca sabemos o que procuramos, mas estamos sempre confiantes que vamos encontrar.

Eu acho-me estranho…mas isso sou eu, e eu dou razão a quem me chama louco, admito que, no mínimo, sou um pouco.

Mas sou um louco consciente. Tenho plena consciência que quando ler isto que escrevi nem eu vou entender. Mas as páginas onde escrevo estas loucuras são baratas, eu aproveito......

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MOMENTOS ...... DE INCERTEZA !!!!






Incerteza



Fui da vida

à poesia



fui da poesia

à vida



que caminho

terá no final

sido o melhor?



Erich Fried