domingo, 5 de dezembro de 2010

A MATANÇA DO BACORINHO PRETO !!!!!



Velha como o passado, esta tradição alentejana de matar o bacorinho preto. Matança que assegurava a mantença pela primavera, verão e outono. No inverno seguinte outro sacrifício haveria. Só mesmo as famílias mais deserdadas o não faziam e, infelizmente, não eram poucas. Os outros, era conforme as posses, ia desde as quatro arrobinhas do remediado às muitas arrobas dos vários bichos sacrificados na casa do lavrador.
Cumpria-se assim, anualmente, o ritual da matança em igualdade de rotina e entusiasmo a par de todas as outras tradições, - o alavão dos queijos, as filhoses do carnaval, o borrego da Páscoa, a quinta-feira da espiga, a adiafa das colheitas e a prova do vinho novo -.
Após apalavrar o negócio do bicho e aprazar o dia do sacrifício, convidava-se uma roda de familiares e amigos com fama de entendedores no assunto. Amolavam-se as facas tendo especial atenção na sangradeira, acarretavam-se os tojos, dava-se uma vista de olhos pelo estado da banca e do chambaril. Areava-se o tacho de cobre que, no resto do ano, fazia vista na estanheira. Tinha-se em especial atenção o aprovisionamento do sal, bem como a limpeza do lugar onde ele iria ter a função de conservante, a salgadeira.
E lá chegava o ansiado dia, geralmente um domingo. A alvorada era cedo, até para os gaiatos que de qualquer maneira quase não tinham pregado olho, tal era a excitação. A mesa do mata-bicho era posta ainda com o lusco-fusco, e não lhe faltava a aguardente e as passas de figo. O resto do aparato, da banca às facas, dos alguidares aos tachos, estava tudo impecavelmente arrumado como se de uma sala de cirurgia se tratasse.
A divisão de tarefas, fazia parte de um acordo estruturado há muitas vidas. Cabia aos homens o sacrifício, o musgar e o lavar, o desmanchar do animal e o separar das peças grandes. As mulheres, tinham de cor a sua labuta, aparar o sangue, lavar e preparar as tripas, fazer os torresmos e a banha mais a tarefa incontornável de tratar das comedias para o afago dos estômagos. Migar a carne do alguidar, temperar e posteriormente fazer os enchidos eram geralmente tarefas também suas, segundo a boa mão e o reconhecido saber fazer.

O ponto alto, era pelo meio da manhã no tirar da bucha. Molejas, febras e outras peças entremeadas, eram assadas no lume que aquecia o tacho para o fabrico da banha. A mastigação destas premissas, era saboreada com o acompanhamento de copos de cinco, de tinto ou branco conforme o gosto. Ao almoço, entre outros comeres, amesendava-se uma belíssima rexina, prato tradicional comum a todo o Alentejo, divergindo apenas de lugar para lugar o seu chamamento, - no alto, rexina, no baixo, serrabulho ou moleja.

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