domingo, 28 de novembro de 2010

O EU E O OUTRO !!


Um dia, eram talvez umas onze da noite, estava em minha casa, sozinho, quando recebi o inesperado telefonema de um querido amigo meu. Fiquei muito feliz por lhe ouvir a voz.
«Oi? Tudo bem? Como é que vai a vida?», perguntou.
E eu, sem saber porquê, respondi-lhe: «Oh... para aqui estou, muito só...»
«Queres conversar um bocado?»
Respondi-lhe que sim, satisfeito.
«Queres que vá até a tua casa?», perguntou-me.
Voltei a responder que sim, entusiasmado com a perspectiva de ter alguém com quem trocar dois dedos de conversa e animar o serão.
Desligou o telefone e, pouco depois, lá estava ele à minha porta.
Fartei-me de falar durante horas: do meu trabalho, da minha família, do meu divórcio, dos mil e um problemas da minha vidinha. Atento, ele escutou-me, animou-me, apoiou-me, aconselhou-me. Nem dei pelo tempo passar. Apesar de, nesse dia, estar muito cansado, a companhia do meu amigo fez-me muito bem. Foi óptimo para mim desabafar e escutar conselhos e palavras amigas. Era quase de madrugada quando nos despedimos.
Já à porta, lembrei-me de perguntar porque me tinha ele telefonado naquela noite, se tinha algum motivo especial.
Então o meu amigo disse-me:
«É que eu queria dar-te uma notícia... Fui ao médico e soube que os meus dias estão contados. Entrei em contagem decrescente...»
Fiquei tão surpreso e consternado que nem recordo o que mais lhe disse. Talvez um monte de vulgaridades. Mas, quando finalmente fechei a porta, de novo sozinho, entre os meus desencontrados pensamentos e emoções, não pude deixar de sentir um enorme desconforto pessoal. Quando o meu amigo me perguntou como eu estava, esqueci-me dele e só falei de mim. Ele, com os dias de vida contados, teve forças para sorrir, escutar-me e aconselhar-me e eu passei o tempo todo a pensar em mim e a falar dos meus dramazinhos pessoais. E, para cúmulo, desconfio bem que, se não fosse a tragédia do meu amigo, nem estava para aqui a recriminar-me pelo meu egoísmo...

Esta pequena estória sobre a amizade e as limitações do nosso próprio Ego, por tendência tão centrado nas próprias necessidades

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