sexta-feira, 17 de junho de 2011

MONTADO VELHO



Meu triste montado velho
Que paz tem quem te procura
E, em ti, vem achar o espelho
De uma vida sem doçura,
Mas livre de enganos vãos !

Troncos rugosos, mas sãos,
Ásperos, sim, mas generosos,
Todos, na desgraça, irmãos,
Dos maus Invernos ventosos
E dos verões, sem pinga d’água.

Montado, que estranha mágua
Te confrange e te redime !
A tua visão afago-a .
És bom cenário pra um crime …
E pra milagres também.

Montado, além, mais pra além,
Há céus azuis e há searas.
E brandas águas que têm
O brilho de pedras raras,
E não há só solidão !

Mas essa tua canção
- solução d’alma que anseia –
Também a meu coração,
Furtivamente se enleia.
E aqui me fico contigo.

Sem ternura, nem doçura;
Mas longe do mundo vão,
- Meu velho montado amigo !

Francisco Bugalho, o poeta a quem José Régio chamou o pintor da Natureza, recorre a uma expressiva paleta de sensações com que ilustra a Natureza, transcendendo os sentidos pela sua faculdade de sonhar, contemplar, cismar e abandonar-se.

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