quarta-feira, 7 de março de 2012

MEMÓRIAS .... !!!



Após ter-me despedido dos meus pais, entrei no quartel, o que fazia pela primeira vez na minha vida, e logo verifiquei que o exército faz de conta tinha sido substituído por um exército com um espírito novo, consentâneo com as circunstâncias da altura: estado de guerra e com o lema, aprender a matar e não se deixar matar porque cada soldado ficava caro ao Governo.
Depois da praxe militar da apresentação ao oficial de dia, ao sargento de dia, ao cabo de dia chegou a vez do amanuense de dia que nos distribuiu todo o enxoval necessário para a nossa estadia, desde as cuecas à respectiva arma.
Em seguida, precedidos por um sargento com voz autoritária, o contrário não ficaria bem, fomos instalados, cerca de cem homens num "armazém" não havia mais casernas disponíveis para alojamento, tal era o tamanho da incorporação. O que vale é o sentido prático do desenrasca no exército.
A caserna era uma espécie de corredor muito comprido em forma de túnel, com beliches duplos, um por cima outro por baixo, colocados ao longo dele formando um apertado corredor central, que viria a tornar-se no futuro, na via mais engarrafada do quartel o que não é difícil de imaginar.
Um único balneária com dez lavatórios e dez duches para cem homens, que tinham cerca de meia hora entre o toque da alvorada e a apresentação na parada, para fazerem a sua higiene matinal, era a maior confusão que se possa imaginar, dando por vezes origem a conflitos, pois levantar aquela hora da manhã até punha um santo mal disposto. Felizmente, sempre fui um galo da manhã ou antes pensava sempre na minha comodidade nem que tivesse que levantar-me uma hora antes do toque da alvorada para tranquilamente ir para o balneário.
Ao princípio era um dos primeiros a apresentar na parada, mas depois passei a ser dos últimos, ainda que o primeiro na higiene matinal. Abrigava-me nos degraus do edifício aguardando a chegada de todos, então ingressava na formatura. Àquela hora da manhã, ainda noite cerrada, o frio era tanto tanto que ficávamos completamente enregelados para o dia todo. Os gajos tinham a lata de nos obrigar a vestir o fato de instrução, em cima do pelo sem qualquer outro agasalho por baixo dele. Por falta de verba militar ou mau gosto do estilista, num cheguei a saber, o dito fato de instrução não passava de um horroroso fato macaco que nos dava mais um ar de aprendizes de mecânico do que propriamente um aspirante a "pronto".
O rancho, não tivesse eu boa boca e muita fome, estava feito, mas felizmente se alguma coisa me deixou boa recordação desta estadia, foi o casqueiro, especialmente de manhã bem besuntado com margarina acompanhado com café quente. Comigo o despenseiro nunca se safou, tomava dois pequenos almoços todos os dias, havia sempre uns bem aventurados esquisitos que preferiam comer umas bolachas que traziam de casa.
Depois do pequeno almoço, seguia-se a instrução militar, que era ministrada por um aspirante miliciano desejoso de demonstrar as suas habilidades e saberes militares. Rapaz da nossa idade, sem qualquer experiência de comando, quanto mais de guerra, procurava superar a dificuldade em se impor ao pelotão, com uma gritaria quase patética, o que aliás é apanágio dos exércitos. A surdez deve ser um sindroma de todos os recrutas em todos os exércitos, pois não há outra explicação para os instrutores não saberem dar ordens ou explicar o que quer que fosse sem ser a gritar.
Depois do rancho do almoço, a instrução lá continuava pelas matas , entre correrias, rastejadelas, passagens a vau e algumas sessões de tiro para afinar a apontaria. O treino terminava por volta das cinco da tarde, ficando o resto do tempo por nossa conta...ansiosamente esperando o fim de semana !

1 comentário:

  1. Pintura: Vila Viçosa promove Prémio Henrique Pousão 2012

    O município alentejano de Vila Viçosa vai promover o Prémio de Pintura Henrique Pousão 2012, uma iniciativa que pretende evocar o pintor calipolense e estimular os artistas alentejanos, revelou hoje a autarquia.

    Mestre de pintura impressionista, o pintor Henrique Pousão é considerado um dos maiores nomes da pintura portuguesa da segunda metade do século XIX.

    Podem concorrer ao prémio de pintura todos os artistas naturais do Alentejo ou residentes na região, com o máximo de duas obras inéditas e originais, da sua exclusiva propriedade.

    Uma condição indispensável para a participação neste prémio é que as obras não tenham sido apresentadas a nenhum outro prémio ou concurso e que não estejam incluídas em catálogos ou publicações.

    Com periodicidade bienal, o concurso tem um prémio de 2.500 euros e, segundo a autarquia, "contempla total liberdade temática", sendo "admitidas todas as tendências e correntes estéticas, desde que se enquadrem na disciplina de pintura".

    Instituído em 1985 pelo município de Vila Viçosa, este prémio, segundo a autarquia, já representa "um galardão de referência no panorama da pintura", contribuindo para a evocação de Henrique Pousão, "ilustre pintor de oitocentos e proeminente figura calipolense que marcou indelevelmente a arte portuguesa".

    O concurso pretende ainda divulgar a identidade cultural e artística local.

    As obras concorrentes devem ser entregues até 30 de setembro na Unidade Municipal de Educação, Património e Cultura da Câmara Municipal de Vila Viçosa.

    Nascido a 01 de janeiro de 1859, em Vila Viçosa, Henrique César de Araújo Pousão viveu apenas 25 anos, tendo falecido em 1884.

    Henrique Pousão é também um dos mais ilustres antigos alunos da Universidade do Porto, formado em Desenho Histórico, Arquitetura Civil, Escultura e Pintura Histórica na Academia Portuense de Belas-Artes, antecessora direta da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.

    A maior parte das pinturas do artista pode ser vista no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, e no Museu do Chiado, em Lisboa.

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