terça-feira, 1 de março de 2011

ENTRE A REALIDADE E O SILÊNCIO !




Nas muitas horas que consigo se encontrava, pensava. E sempre pensando lembrava passagens, presenças, ausências e distâncias na sua vida.
O seu terrível defeito sempre fora o do silêncio. Não de voz. Não. Até que era conversador. Ouvia, muito ouvia. Observava. Sempre observou, ainda que de soslaio sempre captava gestos imperceptíveis e sorria. Mas também muito calava. O seu drama era contornar esse inevitável muro de silêncio que à sua volta construía. E perguntava-se quando ruiria um dia.

Lembrava amigos. Amigos de longa data a quem, de quando em vez, abria a alma. Não temia revelar-se. Temia mais ser um peso para quem a tanto e por tanto tempo estimava. Entre as mais tontas e desconexas conversas, de quando em vez o desabafo surge. Felizes seríamos se não surgisse. Mas surge. No entanto, esses vagos e raros momentos (por vezes longas horas) surtiam o efeito de um bálsamo que alivia a maior dor de alma, seguindo o nosso egoísmo inato. Não nos perguntamos pelo silêncio de quem nos escuta, de quem connosco enceta uma interlocução. Estimava muito as presenças que mantinha na sua vida. Comove-se com os seus sucessos e com a felicidade de quem estima. Preocupa-se com os desaires, por mais insignificantes que sejam, nos seus percursos.

Lembrava também as ausências. Tantas e pelas mais diversas razões. Lamentavelmente.
A estima cultiva-se. Não brota espontaneamente, mas há empatias e simpatias que gostava de explorar. Não está contudo nas suas mãos. Como costuma dizer: "para se dançar um tango é preciso um par." E o tango da amizade não se dança sózinho. É construído de afinidades, de espaços e tempos comuns, partilhados e explorados. Há um segredo imenso que une os amigos: cumplicidades pequenas que os liam para uma vida. Nem é a distância física quem rompe esses laços invisíveis que se criaram.
Curioso pensar nisso: a amizade é cosntruída a par. Um mais um. Cada par é único. Cada amizade tem a sua própria história, como se pessoa fosse. Em cada circunstância o olhar e o sorriso são prontamente dirigidos de acordo com o contexto para quem mais imediatamente o com-preende. Não deixa de ser extraordinário. A história dos momentos que constroem cada relação. Mesmo que em silêncio de palavras, não o será em expressividade.
Olhava para a sua lista telefónica. Olhava para o extracto mensal das chamadas efectuadas. Lancinante: quatro telefonemas de curta duração. Trabalho. Pessoais nenhumas. Do telemóvel que possuia, via-se obrigado a fazer carregamentos obrigatórios porque não necessitava de o usar para questões pessoais. Mas a lista de contactos era enorme.Fazia poucos. Intrigante o facto de manter ainda vivos tantos contactos. Sobretudo os amigos. Mas os amigos lêem nas entrelinhas dos nossos textos onde estamos e como estamos.

Outros perdeu. Ou perderam-se. Não porque o tenha querido, apenas porque circunstâncias várias os fizeram sair do seu caminho. Lamenta bastantes. Qualquer perda é lamentável. Mas há perdas mais significativas que outras. Mas não se deve interferir nas decisões de cada ser. É isso que se chama respeito. E por amor também respeitamos.
Depois pensava: vale mais uma amizade ou vale mais um enamoramento?

Ah....... agora a resposta é difícil. Sorri para consigo: esses pensamentos só te fazem mal !
(texto adaptado por mim)

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