sexta-feira, 1 de abril de 2011

ALEGRIA E LIBERDADE !!




O meu primeiro dia de liberdade....
Havia poucos minutos que tinha recolhido à caserna, assisti ao vivo,ás senhas emitidas pelo MFA , nós "maçaricos" não nos apercebemos do que se estava a passar, sentia-se que algo estava acontecer ,surge um silencio inexplicável,apareceu o "oficial de dia" muito nervoso e pediu-nos para que nos mantivesse-mos serenos que seria alguma coisa com gravidade e não sei mais nada, disse ele.
Claro que já não havia serenidade para ninguém a procura dos rádios a pilhas foi desesperante para ouvirmos que se podia .

A 1ª senha, para o início das operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas, foi dada por João Paulo Dinis aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa:
«Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, E Depois do Adeus ...».


Nervos de ansiedade, sentir a nossa impotência perante aquilo que desconhecíamos ."presos" à disciplina militar estava-mos quase a "estoirar " queremos informações,que pedíamos insistentemente aos graduados de serviço. Parece que está a haver uma revolução,foi a resposta , mantenham-se calmos ... !!

A 2ª senha, para continuação do golpe foi dada pela canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso, gravada por Leite de Vasconcelos e posta no ar por Manuel Tomás, no programa Limite da Rádio Renascença, à meia-noite e vinte, sendo antecedida pela leitura da sua primeira quadra.
Grândola, Vila Morena foi composta como homenagem à "Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense", onde no dia 17 de Maio de 1964, «Zeca» Afonso actuou.

A madrugada libertadora do 25 de Abril, longe de imaginar o que estava prestes a acontecer e depois de tanta ansiedade veio o sossego dos "ignorantes " que já especulávamos se seria bom para os milicianos...

Acordamos se é que dormimos horas depois,formamos na parada e foi nos contados muito sinteticamente o que ainda estava a acontecer,passem o tempo como quiserem .
O dia foi passado com os ouvidos colados aos rádios.
O meu primeiro dia de liberdade foi passado no quartel ou seja todo o dia 25 de Abril de 1974 .
Esta comunicação, pelo menos eu não ouvi:

comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 04:20h

Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.

Apenas dia 26 saí do Quartel,era uma sexta-feira .. fim de semana diferente para os militares , posto isto vim para Lisboa , de mala na mão e ao passar pelo Rossio fui interpelado pelo meus camaradas que me mandar parar e disseram . este é dos nossos ! que orgulho !!
O que se segue foi-me contado em pleno coração de Lisboa :

Foi um dia de emoção total, de loucura completa. Observar as movimentações militares, sentir-me irmanado com um mar de gente que enchia as ruas e largos de Lisboa onde se desenrolavam as principais operações, falar com este e com aquele, partilhar informações sobre o que estava a acontecer... Recordo-me que as pessoas falavam todas umas com as outras mesmo sem se conhecerem. Nunca vou esquecer a alegria esfuziante das populações que adivinhavam naqueles acontecimentos a vitória da Liberdade com que muitos sonhavam, em segredo, há longas décadas.
Alegria e Liberdade são as duas palavras que, para mim, melhor definem o sentimento e espírito daquele dia 25 de Abril, há trinta e sete anos.
Não sei a que horas regressei a casa. Tardias, tenho a certeza.
Mas que interessa as horas?
Era o meu primeiro dia de liberdade....

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